quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Bicicleta na cidade



Caio, o que eu vou falar, a principio pode não estar relacionado com o assunto, mas, de uma certa forma está sim, uma vez que sustentabilidade é um conceito amplo, que diz respeito a comportamento e escolhas. Por isso, vou contar sobre um fato que me ocorreu e tudo o que esse fato me fez pensar. Hoje eu quase atropelei um jovem ciclista na Av. Juscelino Kubitschek.


Eu, a malvada, dentro do conforto do meu S.U.V. coreano, pisei com força nos freios quando ele, a vítima, no auge dos seus 13 anos, montado em sua magrela sem marca famosa, resolveu atravessar a pista, no meio do transito frenético.

Felizmente, nada aconteceu, além do susto, provavelmente mais meu do que dele. Acontece que isso me fez pensar. Não estou sendo uma pessoa sustentável, comprometida com a cidadania, preocupada com as questões urbanas e sociais? Estou sendo egoísta ao optar voltar para casa ouvindo boa música no rádio?

Mas, alguém me explica, como é que faz para deixar o carro em casa e ir trabalhar de bicicleta?

Vamos lá, eu moro em Alphaville e trabalho em São Judas. São 35 km de autopistas entupidas e enlouquecidas.

Vou encontrar uma forma de levar meu filho Caio para o colégio, deixar ou carro em casa e sair com a minha bike.

Vou me vestir a caráter, não para aparecer, mas para minha segurança, sapatilha, bermuda, camiseta, capacete, luvas, etc, etc… Ah, claro, nas costas tem que ir uma mochila com uma muda de roupas para que eu possa me transformar em empresária, depois de dar minhas pedaladas.

No meu escritório não tem chuveiro, então, vou chegar lá com o sovaco fedendo e a busanfa assada, tirar aquela indumentária e vestir a roupa amassada que veio dentro da mochila.

À noite, depois de um dia repleto de atividades, arranco fora minha farda de empresária e me enfio naquela roupa, suada, toda grudada, meia com chulé e, com minha mochila nas costas, vou pedalando, à noite, no meio do transito ensandecido.

Tempos depois, chego em casa, com os pés cheios de bolha, mas chego.

Isso, num dia de tempo bom, como esses que nunca temos em estação nenhuma do ano em São Paulo.

E quando chove? Alguém já pedalou de capa de chuva? E o freio dessa coisa, vai mesmo funcionar?

Acho realmente uma iniciativa louvável, mas, infelizmente, não é para mim. Confesso que tenho medo de morrer massacrada por uma carreta no muro da raia olímpica da USP.

Talvez funcionasse para mim, se eu morasse na Sabiá e trabalhasse na Maracatins, de preferência com um belo vestiário para me recompor, depois de atravessar, com muito cuidado, a Av. Ibirapuera.

O trânsito de São Paulo é alucinado, não é para pessoas frágeis pedalantes, por isso, vou ficar com o meu carro mesmo, desejando ser Moisés, capaz de abrir o mar vermelho das lanternas dos carros que estão à minha frente, me separando do meu atual ponto de localização no eterno congestionamento, da minha casa, cada dia mais distante.

Além desse desejo bíblico, gostaria muito que tivesse uma estação de metrô perto do Shopping Tamboré, onde eu pudesse deixar meu politicamente incorreto meio de transporte estacionado, sem poluir o planeta, sem contribuir para a emissão de gases que provocam o efeito estufa, e embarcar num trem, novinho, limpinho, cheiroso, música ambiente de boa qualidade, pessoas bonitas, bem tratadas, pele hidratada, cabelos esvoaçantes, discutindo questões mais nobres, do tipo, será que Deus será encontrado pelos cientistas que aceleraram as tais partículas?

Abcs

Comentário por caio.camargo

1 01America/Sao_Paulo abril 01America/Sao_Paulo 2010

Agradeço o seu comentário, Anna. Entendo perfeitamente o dilema diário que você enfrenta. Lamento informar que não haverá acelerador de partículas que ajudará a contemplar os seus sonhos. Mesmo assim apareça sempre por aqui. Você, acima de tudo, escreve muito bem.

Abraços,

Caio Camargo

Nenhum comentário:

Postar um comentário